Aquela história de "quem não vê close, não vê corre"
E outras reflexões sobre a vida que a gente escolhe mostrar
Não costumo postar nada no Instagram (tenho preguiça), mas passou por mim um daqueles modelinhos que todo mundo copia e que eu esqueci o nome (ah é, “sua vez”) e decidi postar porque a regra era mostrar seu mês de abril em fotos que não mostravam seu rosto.
Como sou adepta de não aparecer, me deu vontade de participar. Geralmente não faço nada de interessante, e eu tinha algumas fotos legais, então entrei na brincadeira.
O resultado ficou mais ou menos assim:






Fiquei olhando para as fotos todas juntas e na sensação que elas passam de “olha que mês legal ela viveu”, ou “olha como ela é privilegiada, foi ao teatro e viajou pra praia, deve estar cheia de dinheiro”. E pensei em todas aquelas coisas que já estão até batidas sobre o Instagram ser um recorte da sua vida, não a realidade.
Pensei que essas fotos foram momentos como pontinhos de luz no meio da grande escuridão que foi esse mês. Só deus sabe como eu estava me sentindo no momento em que tirei cada uma delas.
Não sei se estou pronta pra falar de tudo que aconteceu - neste exato momento, olho para a tela refletindo se realmente vale a pena escrever, se eu não deveria dar a mim mesma mais algum tempo antes de tentar retomar a escrita, a relevância de falar de um tema que tanta gente já falou (recortes da vida em redes sociais). Ao mesmo tempo, a ironia de perceber que a vida não se reflete nas fotos me deu uma fagulha e a vontade de comentar sobre.
Wicked eu já planejava ver há meses. Tinha comprado o ingresso no final do ano passado, inclusive. Eu não fazia a menor ideia da desgraça que a minha vida estaria quando finalmente chegasse o dia. Para mim, seriam as férias quase emendadas no feriado, a ocasião perfeita para ver o meu musical favorito. Cogitei vender o ingresso, não ir, mas juntei um resto de força pra poder me abalar até São Paulo e tentar me divertir. O remédio que tomo para não chorar fez efeito em noventa por cento do tempo, porque algumas lágrimas caíram quando chegou a hora de For Good, mas não foi o escândalo que eu imaginava.
O médico disse que o remédio ia segurar as minhas crises de choro. Dá certo quase sempre.
O teatro fica pertinho do bairro da Liberdade, cuja estação do metrô é a que fica mais perto. Dá pra ir a pé. Imaginava que estaria lotado, mas subestimei a capacidade do paulistano de lotar os lugares. Nessa foto, estou andando pelas ruas tentando achar um lugar menos lotado pra comer, sem sucesso. Morrendo de medo, tirei o celular da bolsa e bati essa foto rapidamente, só pra não dizer que não estive lá.
O mesmo vale pra foto do grafite indígena no prédio. Não sei se dá pra chamar de diversão um lugar apinhado de gente onde você se sente insegura pra registrar o passeio num par de fotos.
Essa foto parece meio conceito, um domingo vazio numa cidade, mas na verdade era quarta-feira e eu estava indo ao psiquiatra depois de ter sido finalmente esmagada no meu trabalho e perder o fio de sanidade mental que ainda me restava. Levei o que sobrou de mim pra uma cidade a quilômetros da minha, por saber que ali havia um médico que ia escutar o que eu tinha pra dizer. Tirei a foto para mostrar ao meu irmão onde estava, porque pra variar, estava perdida. A clínica não era tão longe, mas eu estava tão exausta por dentro e por fora que procurei um lugar seguro perto dali pra pedir um Uber. Só agora me dou conta de que a imagem mostra uma cidade vazia, mas foi fruto de uma espécie de “sorte” em que não estava passando quase carro ou ônibus nenhum.
Meu último dia na praia. Peguei um dinheiro que sabia que ia me fazer falta depois pra tentar me dar um pouco de tranquilidade e alegria, porque meio que já sabia o que me esperava quando voltasse a trabalhar. Foi outra coisa que deu quase certo. Nesse momento eu já estava voltando pra casa, com três cachorros no banco de trás (que para minha surpresa, se comportaram maravilhosamente bem).
A gente decidiu andar um pouco com os cachorros na calçada da praia pra mostrar a eles o mar. E mesmo aquela prainha, tão acanhada, quase escondida ali na beira da Rio-Santos é tão linda que eu tinha que registrar de todos os jeitos possíveis. Vi um casal conversando enquanto tomava sol e nunca achei que diria isso, mas senti uma inveja gigantesca deles. Talvez o que eles estivessem vivendo também não fosse perfeito, nem o que parecia para mim ali, naquele momento.
A última foto é a única coisa que realmente retrata o que parece. Meus três cachorros, olhando a rua pelo portão da casa que aluguei pelo Airbnb. A única coisa capaz de me arrancar sorrisos e me encher de paz, ainda que por alguns segundos a cada dia. Eu tenho os cachorros mais maravilhosos do mundo todinho.
Não sei como terminar esse texto, o que talvez mostre o quanto ando fora de mim, o quanto ando mudando e como não sei ainda onde irei parar. Em algum mundo pararelo meus momentos são realmente felizes, e não uma projeção distorcida da realidade. Pensar nisso me dá um conforto estranho, porque gostaria de estar nesse mundo paralelo e não na pior versão dele, que é onde eu vivo.
Todo amor pro cê! Que nesses movimentos, consiga encontrar o inesperado! 🫶🏼